O Artista do Barzinho
As mesas estão cheias de quem deseja dar um toque diferente para a rotina. Os sons das conversas, risadas e gritos chamando os garçons tomam conta do ambiente junto com as imagens das bebidas e petiscos. As pessoas colocam as conversas em dia, refrescam a garganta e degustam os sabores do boteco.
Papo vai, papo vem. O tempo segue correndo. De repente entra alguém lá dentro carregando várias capas. Ele abre todas e tira os instrumentos que darão o ritmo ao repertório. Chegou o Artista do Barzinho! Em breve o barulho da conversa será substituído pelas músicas.
Começou o show. Então, o Artista do Barzinho pega a cadeira para se sentar, ajeita o microfone, o violão e os fios. A voz dele domina o ambiente. Traz o repertório plural e bem conhecido para agradar os diferentes públicos do lugar.
O artista faz o que tanto ama, tocando os covers. Mas será que a alma está 100% feliz? Afinal, poucos sabem quais foram os sonhos dele na carreira musical ou se a preferência seria mostrar as composições próprias. Só que trocar os clássicos pelas próprias letras poderia significar um risco perante os clientes do boteco que talvez não estejam dispostos a ouvir algo fora dos padrões. Ah, isso é outra reflexão. Deixa pra depois. Não vamos estragar o clima de alegria nas mesas.
A noite segue. Enquanto as pessoas viram os copos e mastigam as iguarias, o artista continua cantando. Apresenta a calmaria da MPB. Viaja pelos sucessos nostálgicos dos anos 80, 90 e 2000. Traz aquele pop rock chiclete. Passa por diferentes estilos de sertanejo.
Foto: Pixabay
O consumo de bebida aumenta. Em meio a playlist, alguns clientes mais animados tentam desafinadamente acompanhar as letras e as vozes se sobressaem ao do Artista do Barzinho. Outras e outras pessoas procuram entrar no ritmo. As vozes se misturam em cadências aleatórias. Impossível escutar apenas o artista e agora o "show" não é solo.
É hora de um desafio. Os gritos de pedidos de musicais começam. Quase impossível o artista entender direito. Porém, ele tem que escolher algumas delas para fazer a resenha com a galera e mostrar carisma. Finalmente consegue selecionar os pedidos e ao tocá-los ganha aplausos da galera da bagunça. Recebe outros pedidos aos gritos. Também há quem se aproxime dele com cheiro de bebida alcoólica pedindo aleatoriedades musicais sem a menor lógica entre os singles. Assim, determinadas canções solicitadas pela turma do do boteco não são possíveis de executar no momento. Apesar disso, o Artista do Barzinho resolve soltar a voz após o intervalo de 20 minutos e lembra dos principais pedidos possíveis. A festa segue com um feat entre cantor e público.
Terminou o show. O artista se despede, guarda os instrumentos, coloca no bolso ou no App do banco o pagamento do dono do estabelecimento e lentamente desaparece ao ir embora e entrar no carro. Liga o automóvel, pensa nos convites e apresentações seguintes e volta a sua casa onde planeja a rotina misteriosa longe dos microfones e que talvez ninguém que o escutou no barzinho saiba.
O volume do ambiente do boteco abaixa no decorrer da madrugada, porque os garçons estão guardando as mesas e a saída do público esvazia o lugar rapidamente.